sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Das mulheres jovens e velhas

O homem verdadeiramente homem quer duas coisas: perigo e fogo. Por isso quer a mulher que é o brinquedo mais perigoso.
O homem deve ser educado para a guerra e a mulher para prazer do guerreiro. Todo o resto é loucura.
O guerreiro não gosta de frutos doces demais. Por isso ama a mulher: A mulher mais doce é sempre amarga.
A mulher, melhor que o homem, compreende as crianças, mas o homem é mais criança que a mulher.
Em todo o verdadeiro homem se oculta uma criança, uma criança que quer brincar. Vamos lá, mulheres! Procurai descobrir a criança no homem!
Que a mulher seja um brinquedo puro e refinado como o diamante, em que cintilem as virtudes de um mundo que ainda não existe!
Cintile em vosso amor o fulgor de uma estrela! Que vossa esperança diga: “Que seja a mãe do super-homem!”.
Haja valentia em vosso amor! Com a arma de vosso amor deveis espantar aquele que vos inspire medo.
Que vossa honra subsista em vosso amor! Geralmente a mulher pouco entende de honra. Que vossa honra seja amar mais do que fordes amadas e nunca ficar em segundo lugar.
Que o homem tenha medo da mulher quando a mulher ama porque ela não recuará diante de nenhum sacrifício e tudo o mais para ela não tem valor.
Que o homem tenha medo da mulher quando a mulher odeia porque o homem, no fundo de sua alma, é malvado. Mas a mulher, no fundo da sua, é perversa.
A quem a mulher odeia mais? O ferro assim dizia ao imã: “Odeio-te mais do que qualquer outra coisa porque atrais, mas não tens força suficiente para me sujeitar”.
A felicidade do homem se chama “Eu quero”. A felicidade da mulher se chama “Ele quer”.
“Eis que o mundo acaba de se tornar perfeito!” – assim pensa toda mulher quando obedece de todo coração.
E é preciso que a mulher obedeça e que encontre uma profundidade para sua superficialidade. A alma da mulher é superficial: uma película de tempestade sobre águas rasas.
Mas a alma do homem é profunda, sua corrente brame em grutas subterrâneas. A mulher pressente a força masculina, mas não a compreende.

Assim Falava Zaratustra - Nietzsche

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

NÃO CHEGO AOS PÉS DELA



O pé de Katy é tão lindo que eu poderia colocar a aliança em seu dedo.

Deveria ter uma aliança para a mão e outra para seu pé.

Um desperdício de beleza não desposar seus pés também. Não andar de pés dados no Parque da Redenção, na Usina do Gasômetro.

Não é um pé simplesmente para a cama, mas é um pé de compromisso, feito para o altar.

Seu pé é perfeito, pequeno, os dedos simétricos, firmes, atraentes.

Não aquele pé que tem um dedão apontando para a rua enquanto os outros apontam para o mar.

Não aquele joanete imprevisível, neurótico, que confunde a direção do destino.

É um pé sem bicos de papagaio, que nunca morde, que jamais machuca. Um pé que não matará baratas, porque só serve para abrir espaço ao espanto dos pássaros. Os nervos conversam e se entendem, as veias estão tomando sol debaixo do guarda-sol da pele e nem aparecem.

O homem se apaixona pelas mãos, mas somente casa depois de ver os pés.

Os pés são a âncora do casamento. Os pés são o voto de minerva. Os pés são o último conselho.

Não precisa ser podólatra para isso. Não sou de chupar os dedos do pé, lamber, me perder entre as frestas. Nenhuma taradice, tenho apenas uma admiração enamorada, normal entre os homens.

Deixa explicar. Seu pé tem as unhas pintadas em fileira indiana, é um buquê, uma procissão organizada de rosas a Iemanjá. Nada fora do lugar, nada torto e truncado.

Um pé que cria vontade de se embalar na rede, de levantar as pernas no impulso do balanço. Um pé que é melhor do que um lençol de 800 fios. Macio, sestroso.

Considero, inclusive, um crime que minha mulher pague a diferença entre pedicure e manicure, o preço merecia ser único, de mãos.

Ela, na verdade, tem quatro mãos, vive no ar, flutuando, levitando. Anda pelos ares, pelos ventos de meus olhos.

Quando ele roça meu pé, a sensação é que me beija – me beija na boca.

Meu grande problema é que Katy trabalha de Havaianas numa loja carioca. Não suporto a dor de cotovelo.

Sofro toda vez que ela sai de casa. Todos podem enxergar sua exuberância – não é justo.

Meu amor é cristão. Meu ciúme é muçulmano.

Além da aliança, deveria existir véu para os pés.


(De Fabrício Carpinejar)