quarta-feira, 17 de abril de 2013

Ler sorrindo


Existem textos que me fazem ler sorrindo.
A maioria dos textos deste autor, me fazem ler sorrindo, como quando escutamos uma história boa, uma conversa agradável entre amigos...
Este foi o primeiro texto que li deste autor e que achei de uma beleza singela e singular. E que ousei adaptar para compartilhar com vocês.



"Minhas amigas reclamam quando seus namorados as perseguem. Lamentam o barraco do ciúme, a insistência dos telefonemas para falar praticamente nada, o cerceamento dos horários. 

Sempre as mesmas tramas de tolhimento da liberdade, que todas concordam e soltam gargalhadas buscando um refúgio para respirar. Eu me faço de surda. 
Fico com vontade de pedir emprestada a chave da prisão para passar o domingo. Acho o controle comovente. Invejável. 
Não sou favorável à indiferença, à independência, ao casamento sartreano. Fui criada para fazer um puxadinho, agregar família, reunir dissidentes, explodir em verdades. 
Aspiro ao casamento pirandelliano, um à procura permanente do outro. Sou uma totalitária na paixão. Uma tirana. Uma ditadora. Não me mostre poder que quero ser escravizada. Não me dê espaço que cultivo. Não me eleja democraticamente que mudo a constituição e emendo os mandatos. 
Quero um homem perdigueiro, possessivo, que me ligue a cada quinze minutos, quero um homem  que  odeie qualquer amigo que se aproxime. Que arda de ciúme imaginário para prevenir o que nem aconteceu. Que seja escandaloso na briga e me amaldiçoe se abandoná-lo. 
Que brigue pelo meu excesso de compromissos, que me fale barbaridades sob pressão e ternuras delicadíssimas ao despertar.
O homem que ninguém quer, eu quero. Contraditório, incoerente, descabido. Que me envergonhe para respeitá-lo. Que me reconheça para nos fortalecer. 
O homem que não sabe amar recuando e não tolera que eu ame atrasado. 
Alegria pequena e preciosa de respirar rente ao seu nariz e definir com que roupa vou ao serviço. 
O amor é uma comissão de inquérito, é abrir as contas, é grampear o telefone, é cheirar as camisas. É também o perdão, não conseguir dormir sem fazer as pazes. 
O amor é cobrança, dor-de-cotovelo, não aceitar uma vida pela metade, não confundi-la com segurança. 
Quem aspira ao conforto que se conserve solteiro. Eu me entrego para dependência. Não há nada mais agradável do que misturar os defeitos com as virtudes e perder as contas na partilha. 
Não há nada mais valioso do que trabalhar integralmente para uma história. Não raciocinar outra coisa senão cortejá-lo: avisá-lo para espiar a lua cheia, recordar do varal quando começa a chover, decorar uma música para surpreendê-lo, sublinhar uma frase para guardá-lo. 
Sou doida, mas doida varrida. Bem limpa. Aprendi a usar furadeira e agora entro fácil em parafuso. Quero um homem imaturo, que possa adoecer e se recuperar do meu lado. Um homem que me provoque quando não estou a fim. Que dance em minhas costas para me reconciliar com o passado. Que me acalme quando estou no fim do filtro. Que me emagreça de ofensas. 
Não me interessa um tempo comigo quando posso dividir a eternidade com alguém. 
Quero um homem que esqueça o nome de seu pai e de sua mãe para nascer em meus olhos. Em todo momento. A toda hora. Incansavelmente. E que eu esteja apaixonada para nunca desmerecê-lo, que esteja apaixonada para jamais diminuí-lo. "



Texto Adaptado por Katy Willing.

Texto original - Mulher Perdigueira de Fabricio Carpinejar




Um comentário:

  1. Oi querida!

    Adorei a sua adaptação do texto, me identifiquei muito com ela, também quero um homem assim :)

    Miaubeijos com carinho =^.^=

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